quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Euclides

Inveja

Confesso, sinto inveja! Aliás, foi a inveja que deu nome a este blog. Um adendo para esclarecer: Cândida Eréndira é a jovem personagem do conto de Márquez intitulado "A Incrível e Triste História de Cândida Eréndira e sua avó desalmada". Neste conto Cândida, uma mocinha de 14 anos, é prostituída por sua avó que a culpa pelo incêndio de sua casa. Um belo dia um jovem rapaz, que atende pelo sugestivo nome de Ulisses, aparece dando a Cândida esperança e alento. O final da história...NÃO CONTO!
Bom, retomando o tema inicial, sinto a enorme inveja de todo e qualquer colombiano que pode dizer "Gabriel Garcia Márquez é nosso!". Reparem que usei o artigo definido "a" para determinar bem o tipo de inveja que sinto por que, notem bem, não sinto qualquer inveja. É aquela inveja que somento sentimos pelo que admiramos. E como admiro o povo Colombiano e sua história ainda mais incrível e triste que a da própria Cândida Erêndira. Como é forte este povo que luta bravamente contra as imposições de um modo de produção que lhes deseja matar. Enfim, sinto inveja por eles terem um escritor de literatura fantástica, por serem combativos, por não se curvarem e por terem as FARCS. Adoraria ter um ou dois grupos com a mesma orientação ideológica e a mesma coragem que os integrantes das FARCS têm.
Mas quando se trata de literatura, a verdade é que nós brasileiros, temos um redentor. Sua composição está longe de ser semelhante à da literatura fantástica. Mas não deixa de ser fabulosa. O nome deste escritor é Machado de Assis. Com sua narrativa moderna, conseguiu compôr uma literatura que deu conta de expressar temas universais sem perder de vista tudo o que tínhamos de mais peculiar. Infelizmente nossa peculiaridade não era a força e a coragem de Cândida Erêndira, mas a brutalidade da escravidão não vista. Escravidão sofismada por falácia liberal duplamente enganadora.
De todo modo, podemos dizer "Machado é nosso!". Mesmo que embranquecido pelo tratamento dado aos seus retratos - por que Machado era preto, pretinho da silva -, e mais lido na Inglaterra do que no Brasil, foi em território brasileiro que Machado nasceu e escreveu. Foi da nossa dura e cruel realidade que ele se alimentou. E foi nossa fraqueza que ele descreveu.

Márquez

“Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapos e me
presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que
pudesse...
Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o
que digo.
Daria valor às coisas, não por aquilo que valem,mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos
os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se detivessem,acordaria quando os demais dormissem.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol,
deixando a descoberto, não somente o meu corpo, como também a minha alma.
Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se
enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam
de se enamorar...
A um menino eu daria-lhe asas, apenas lhe pediria que aprendesse a voar.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas sim com
o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com Vós homens…. Aprendi que todo o mundo quer viver no
cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir
a escarpa.
Aprendi que quando um recém nascido aperta com a sua pequena mão,
pela primeira vez, o dedo do seu pai, agarrou-o para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar o outro de cima para baixo,
quando está a ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com Vocês, mas agora, realmente
de pouco me irão servir, porque quando me guardarem dentro dessa caixa,
infelizmente estarei morrendo.
Sempre diz o que sentes e faz o que pensas.
Supondo que hoje seria a última vez que te vou ver dormir, te abraçaria
fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião da tua alma.
Supondo que estes são os últimos minutos que te vejo, diria-te “Amo-te”
e não assumiria, loucamente, que já o sabes.
Sempre existe um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos
as coisas bem, mas pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero,
que nunca te esquecerei.
O amanhã não está assegurado a ninguém, jovens ou velhos.
Hoje pode ser a última vez que vejas aqueles que amas. Por isso, não esperes mais,
fá-lo hoje, porque o amanhã pode nunca chegar. Senão, lamentarás o dia em que
não tiveste tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e o teres estado muito
ocupado para atenderes esse último desejo.
Mantém os que amas junto de ti, diz-lhes ao ouvido o muito que precisas deles,
o quanto lhes queres e trata-os bem, aproveita para lhes dizer,
“perdoa-me”, “por favor”, “obrigado” e todas as palavras de amor que conheces.
Não serás recordado pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a
sabedoria para os expressar.
Demonstra aos teus amigos e seres queridos o quanto são importantes para ti”

Gabriel Garcia Márques